Na palma das mãos
Em tempos passados viveram na terra personalidades que marcaram a história da humanidade. São inúmeras as pessoas que fazem a diferença e ajudam a aprender, a progredir, refletir... Tentarei colocar em algumas linhas feitos de três pessoas que foram e continuam sendo muito especiais. Léon Denis, O Gigante deitado e Allan Kardec.
Léon Denis autor espírita escreveu obras como “O porquê da vida”, “Depois da morte”, “O espiritismo na arte”, “O problema do ser, do destino e da dor” entre outras e desencarnou quase cego em uma época em que não existiam as facilidades que hoje eu tenho, para continuar me comunicando, escrevendo, apesar da deficiência visual. Diariamente me pergunto: O que ele e outros tantos não teriam feito, com a acessibilidade que temos hoje para escrever e manter a comunicação?
Na época, Léon Denis aprendeu o Braille (Técnica que deficientes visuais utilizam para ler com os dedos das mãos) e em alguns momentos sua secretária escrevia o que ele ditava. Nos dias atuais o Braille está quase deixando de ser utilizado. É raríssimo encontrar o Braille por aí...
Em um contexto geral, não é tarefa fácil quando encontramos barreiras na comunicação.
O Gigante Deitado, é outra referência que tem vindo muito ao meu encontro nas minhas reflexões. Seu nome, Jerônimo Mendonça - nascido em Ituiutaba, MG, no dia primeiro de novembro de 1939 e sua desencarnação ocorreu no dia 26 de novembro de 1989, com 50 anos apenas. Filho de Altino Mendonça e Antonia Olímpia de Jesus, sendo nono filho de uma irmandade de dez filhos. Teve uma infância pobre cheia de privações e seus pais, além de pobres, eram também analfabetos; lutavam arduamente pela sobrevivência: a mãe lavando roupa para fora e o pai fazendo “bicos” pelas fazendas. Em uma de suas histórias conta, com muito humor, que o único par de sapatos que teve em sua adolescência fora achado no lixo, quando tentava entrar no cinema. Aos treze anos foi levado para conhecer a igreja presbiteriana e foi protestante até os 15 anos; era um membro ativo, dava até palestras. Após a desencarnação de sua avó, começou a se debater mentalmente no problema cruciante da morte e do destino da alma, tendo ele um espírito indagador, não se sujeitou aos horizontes estreitos da igreja no que tange a crença em Deus, ao conceito de uma vida única e de uma salvação limitada. A amizade com um espírita fê-lo converter-se à doutrina espírita. O amigo esclareceu-lhe as dúvidas da vida além-túmulo e conseguiu acalmá-lo. Já na puberdade, Jerônimo começou a sentir dores nas articulações, especialmente nos joelhos e tornozelos. Esses pontos de seu corpo passaram a “inchar” e já aos dezoito anos andava com dificuldade. Teve vários empregos, porém as dores agravaram, não lhe deram tréguas e o impediram de permanecer por muito tempo num mesmo trabalho, sendo sempre obrigado a se afastar. Foi ele balconista, entregador de jornal, redator-chefe de uma revista e professor. Seu passatempo preferido era o cinema, fascinado pelo Tarzan, sendo este o seu apelido. Enquanto sua saúde lhe permitiu, participou ativamente das excursões com os jovens de uma Mocidade Espírita. Desde jovem já mostrava interesse pelo espiritismo, frequentando o Centro Espírita que existia na cidade. Isto foi de grande auxílio para ele, pois aos 18 anos de idade se defrontava com uma das primeiras grandes provações que tinha de vencer: passou a sofrer de uma doença, não muito rara, a artrite reumatóide, que lhes causava enormes dores e dificuldade de locomoção, quadro este que foi se agravando até que aos 20 anos de idade ficou definitivamente de cama, depois de um certo dia em que foi ao cinema assistir ao filme "E o Vento Levou”; na sala não haviam poltronas vazias, o que fez com que Jerônimo ficasse por quatro horas de pé no fundo da sala e, ao terminar o filme estava petrificado, com grande vibração de dor nos membros inferiores. Foi aí que começou a jornada dolorosa e difícil da paralisia, como ele mesmo conta em sua autobiografia. Passou três meses deitado, plenamente impossibilitado de se locomover. Depois usou muletas por algum tempo enquanto ia lecionar, porém, acabou mesmo tendo que ficar numa cama ortopédica, acometido pela artrite reumatóide progressiva. O quadro enfermo de Jerônimo era tão desolador que mesmo sob efeito medicamentos, seus amigos tiveram que fabricar uma cama especial e colocar sobre seu peito um saco de areia de 30 quilos para que ele pudesse suportar a dor. Recebeu de um amigo a doação de uma Kombi para poder ser levado às palestras. Jerônimo tornou-se orador espírita. Podemos dizer que conseguiu transformar seu leito numa tribuna ambulante (deu palestras pelo Brasil todo) e por meio delas conseguiu realizar um grande e valioso trabalho.
Permaneceu assim cerca de trinta anos preso ao leito, paralítico e com a agravante perda da visão. Quase não dormia, aproveitou para estudar bastante o Espiritismo. Quando ficou cego, amigos liam para ele. Nunca lhe faltaram bons amigos. Certa vez, entrevistado por um repórter sobre o significado de felicidade, ele respondeu assim: “A felicidade, para mim, deitado há tanto tempo nesta cama sem poder me mexer, seria poder virar de lado”.
Outra bela lição é a de Emmanuel no livro psicografado por Chico Xavier, Fonte Viva, capítulo 162 intitulado, dentro da luta, que diz: “O sofrimento tem a sua função preciosa nos planos da alma, tanto quanto a tempestade tem o seu lugar importante na economia da natureza física.”
Esse texto é em homenagem aos que auxiliam nessa jornada trazendo benefícios riquíssimos relacionados à espiritualidade, à tecnologia, à ciência e àqueles que ensinam o equilíbrio de viver no meio desse turbilhão de novidades materiais.
Será que Allan Kardec, codificador da doutrina espírita imaginava que as obras básicas do espiritismo que escreveu à luz de velas e molhando o bico da caneta em uma tinta estariam disponíveis na internet em um site específico para as obras? Ou que com tanta facilidade, as suas obras seriam distribuídas para qualquer lugar do mundo?
Escolhi falar hoje sobre esses três, pois eles e seus preciosos ensinamentos estão reverberando muito em mim nos últimos dias. Suas histórias tem me convidado a tentar ser diferente diante da dor e do sofrimento.
O que posso desejar é que consigamos utilizar com sabedoria e responsabilidade as tecnologias que muitos de nós tem, com facilidade na palma das mãos.
Que possamos reverenciar com amor tantas descobertas e conhecimentos que temos disponíveis hoje! Se hoje temos muitos recursos tecnológicos como a internet, sites, blogs, salas de aulas virtuais, é porque um dia alguém inventou a eletricidade, o computador, o celular, o roteador, o chuveiro elétrico, a máquina de lavar, o ferro de passar, a máquina de escrever, o rádio que hoje também é transmitido em vídeo, a cadeira de rodas, a bicicleta, o Braille, os narradores de tela, o oxigênio, os exames de ponta, as inteligências artificiais, os drones, correios, e tantos outros inventos que passaria dias enumerando.
Não podemos negar, a internet, a ciência, a tecnologia e a espiritualidade só funcionam com efeitos inteligentes sobre elas, caso contrário, são inertes. Que possamos não nos esquecer da nossa espiritualidade apesar de tantos acontecimentos que machucam nossa alma.
Segue o trecho de uma linda reflexão do livro “Escalada de luz” de Jerônimo Mendonça chamada a visão: “Para o Senhor da vida, o importante não é a cor de seus olhos: se são verdes como a esmeralda, azuis como a anilina do céu diáfano, pretos como a noite, ou simplesmente castanhos. O importante para o Senhor é como estamos usando nossos olhos.” Conecto esse significado, a uma poesia que escrevi recentemente, chamada, A Missão, para o dia que seria aniversário de Allan Kardec (03/10/1804) e assim finalizo dizendo: ... Seja sua missão grande ou pequena é preciso compreender que nada na matéria permanece a não ser a história que cada um escrever.
Referências